domingo, 22 de abril de 2012

[CRÍTICA] Carnage (Carnage, 2011)

Trailer de Carnage

Roman Polanski é um dos melhores diretores da atualidade. A maioria de seus filmes, fortes e por muitas vezes polêmicos, baseiam-se na expressão da verdadeira natureza humana. Polêmicos não por serem viscerais ou chocantes, mas por tratarem de temas não muito convencionais, como sexualidade e perversões, em Bitter Moon (Lua De Fel, 1992), ditadura e vingança, em Death And The Maiden (A Morte E A Donzela, 1994), etc. Carnage, sua mais nova obra, não é diferente.

A película conta a história de dois casais, que se encontram para resolver pacificamente uma agressão que ocorreu entre seus filhos, consequência de bullying. A discussão, porém, foge do controle, revelando as verdadeiras faces dos casais Cowman, Nancy (Kate Winslet) e Alan (Christoph Waltz), e Longstreet, Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly).

Um tema simples e monótono. Diria até chato. Mas, calma, é um filme de Polanski. Carnage, como qualquer de seus outros filmes, é genial. Praticamente toda a película se passa em apenas um ambiente: o apartamento do casal Longstreet, pais do menino-vítima da agressão (e cometedor do bullying). Em um dos primeiros desacordos entre os casais (“armed with” a stick ou “carrying” a stick?), já percebe-se que a conversa não irá acabar nada bem. O curioso é que Polanski tenta ludibriar o telespectador a cada momento, sugerindo um final para a discussão sem maiores consequências. Porém, a cada palavra, a cada frase, cada personagem vai se despindo dos valores politicamente corretos que somos obrigados a aceitar para viver em sociedade.

É isso que Carnage é: uma sátira à sociedade norte-americana e seu estilo de vida. E isto também serve para todos os povos americanizados, inclusive o brasileiro. Polanski nos prova que basta pisar em nosso calo para nos rendermos à natureza mais primitiva e animalesca. Toda a “civilidade” da qual os ocidentais se gabam vai por água abaixo. A postura defensiva de cada personagem mostra que, como o próprio Alan (na minha opinião o mais sensato e menos hipócrita dos quatro) deixa claro, ninguém ali está preocupado com o que realmente aconteceu (chega-se ao ponto de discutir até o abandono de um hamster!). Esquece-se como tudo começou; agora, trata-se de uma questão de honra, de orgulho, de se defender dos ataques disparados contra seus valores (hipócritas ou não). É curioso (e ao mesmo tempo assustador!) descobrir como somos racionais e simultaneamente tão fúteis e mesquinhos.

O quarteto protagonista está perfeito e envolvente: dramático e hilário ao mesmo tempo. God Of Carnage, peça teatral de sucesso de Yasmina Reza (que também escreveu o filme), baseia-se nas quatro personagens principais. No filme, eles também são o pilar (sim, os quatro estão tão bem entrosados que conseguem formar um único pilar!) e não apenas a sustentam, como elevam o telespectador a aplaudir no término da sessão, tal qual um ato cênico.

O modo de iniciar e terminar a película é sensacional. As cenas, sem sequer uma fala e durante os créditos iniciais e finais, explicam por si só o estopim e o fim do evento causal. Isso é Sétima Arte! Mais uma vez, ponto para Polanski! Entretanto, há um grande defeito no filme: a curtíssima duração. Quando estamos plenamente envolvidos, o fim nos pega de surpresa. Uma supresa não muito boa, já que nos divertíamos tanto com os diálogos vorazes, o humor negro e o sarcasmo do quarteto.

Assim, Carnage é verborragia inteligente e soberba sobre os valores arraigados nos imos do nosso ser. Se alguém  subitamente nos chamasse de hipócritas, provavelmente reagiríamos violentamente, oral ou fisicamente, tal qual uma das personagens do filme. A genialidade de Polanski é tamanha que ele faz exatamente isso com o telespectador, porém de maneira sutil e bem-humorada. E ainda sai aplaudido e reverenciado. Enfim, em Carnage, Polanski realiza uma ode à hipocrisia e nos prova o quão infantis (no sentido perverso da palavra) somos.

Daniel Lima

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