sábado, 21 de abril de 2012

CRÍTICA: A Perseguição (The Grey, 2011)

Trailer de A Perseguição

The Grey narra a história de sete sobreviventes de um acidente aéreo no Alasca, enquanto enfrentam uma nova ameaça: uma alcatéia faminta. Uma premissa interessante, especialmente para um suspense, coisa que Joe Carnahan, cineasta inexpressivo, não soube explorar bem, confuso entre o suspense e o drama.

Na primeira metade do filme, o ritmo flui bem, com uma atmosfera lupina ameaçadora, apesar das inserções desnecessárias de flashbacks mela-cuecas e repetitivos para tentar montar um background. Já na segunda metade, tudo piora: o melodrama e a interação entre o grupo de sobreviventes descamba para discussões fúteis sobre seus passados, religião, crises existencialistas... Os lobos parecem esquecidos e a ambientação inóspita se torna a principal ameaça. Bah, cadê o filme que comecei a assistir? Pra quê isso, e não apenas se limitar a construir um filme de suspense mais eficiente? Carnahan parece perdido, sem saber se tenta criar um thriller ou conduzir um filme mais profundo. De fato, os lobos são intimidadores e o clima de suspense ao redor dos incursões existe, mesmo que deficiente (em muitos cenas, a tensão é preterida em favor do susto). 

O grande destaque da película é a fotografia. Paisagens de tirar o fôlego são captadas de maneira a fazer o telespectador tremer de frio. A implacabilidade da natureza está sempre ao redor das personagens de maneira incisiva. Elas não pertencem àquele lugar, e a luta contra a alcatéia se transforma rapidamente em uma luta contra a natureza, em que o grupo usa as armas que ela própria lhes deu: adaptação e inteligência. Ao mesmo tempo em que podemos ser fortes e resistir à queda de um avião, Carnahan nos mostra a fragilidade do ser humano, onde podemos sucumbir a uma torsão de tornozelo ou à falta de oxigenação em terras de elevada altitude. 

Liam Neeson encarna Ottway, uma personagem genérica que ultimamente está acostumado a interpretar. Não compromete, mas também não adiciona nada. As personagens são pobremente desenvolvidas, com comportamentos paradoxais às suas histórias pessoais (superficiais e, por vezes, inexistentes). Por exemplo, partindo de um protagonista potencialmente suicida, esperamos ao longo do filme um motivo que de fato mude suas intenções e justifique seu forte instinto de sobrevivência. Esperamos em vão. Assim, fica um pouco difícil se solidarizar com os desafios que o protagonista enfrenta, com sua repentina e inverossímil mudança de comportamento e feroz vontade de sobreviver.

Os estereótipos de filmes de grupos que tentam enfrentar alguma ameaça se fazem presentes, de maneira incômoda e chata. Há o engraçadinho e falastrão, o medroso e questionador, o submisso e solidário, o líder politicamente correto, etc. Os clichês também estão lá, desmascarando a imprevisibilidade que poderia tornar o filme bem mais interessante. Apesar disso, gostei bastante do final, mas não irei comentar aqui para evitar spoilers.

Enfim, acredito que The Grey agrade aqueles que buscam um entretenimento despretensioso num suspense vazio e que não se tenha de botar a cabeça pra funcionar muito. Não há nada de novo, e a fórmula batida é tão descarada que chega a incomodar: parece que já assistimos isso antes, umas trocentas vezes. Mas aí está o mérito de Calahan: com estes elementos que afundariam qualquer película, ele consegue elevá-la a um nível mediano. Só espero que seu próximo projeto não seja Um Lobisomem Irlandês No Alasca.

Daniel Lima

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