sábado, 16 de junho de 2012

[CRÍTICA] Prometheus (Prometheus, 2012)

Trailer de Prometheus

O nome já diz tudo. Prometeu, na mitologia grega, foi um defensor da humanidade, que roubou o fogo dos deuses e deu-o aos mortais. Uma excelente metáfora para uma nave que parte em busca de conhecer a origem da humanidade, supostamente localizada em um planeta distante. O que todos esquecem, entretanto, foi a punição que o titã sofreu por tamanha ousadia: ser amarrado em uma rocha e ter seu fígado comido, eternamente, por uma águia. Prometheus, nova obra de Ridley Scott, apenas nos presenteará. Já a nave homônima presente na película...

A trama se baseia em uma missão espacial a um planeta desconhecido, após uma série de descobertas arqueológicas que indicam uma espécie de mapa estelar. Ao encontrar seu destino, porém, a tripulação descobre que precisa se preocupar mais com o futuro da humanidade do que com seu passado.

Com base em questões e mistérios filosóficos que desde sempre intrigaram a humanidade, Scott constrói uma rede de perguntas para aguçar a curiosidade do telespectador e afastá-lo da esperança de um mero remake ou prelúdio de Alien (Alien – O 8º Passageiro, 1979). Nada é respondido e é nisso que reside o brilhantismo de Prometheus. Muitos se decepcionarão por não encontrar respostas. Mas por quê deveríamos? Porquê as evidências arqueológicas formam um mapa e, nas palavras da Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), um convite? E se ela estivesse errada? Não seria apenas realista assumir que existe a possibilidade de que, por mais que nos esforcemos, não consigamos resposta nenhuma? É disso que Prometheus trata: ingenuidade versus arrogância. A ingenuidade de acreditarmos que há uma resposta para tudo e a arrogância de que merecemos esta resposta. É nesta hora que percebemos o quão o andróide David (Michael Fassbender) está certo ao se vangloriar por não poder sentir decepção.

Com eficiência, nos vemos perdido em um planeta distante, com mais curiosidade do que medo, até que a atmosfera muda lentamente para o desespero e terror. Há cenas antológicas e belíssimas onde imperam o gore, as gosmas e os efeitos surpreendentes (a cena do parto é sensacional!). A ambientação é de tirar o fôlego e o visual é bem mais clean que o original. É difícil entender, porém, como Scott, que se empenhou tanto para entregar um filme inteligente, pôde aceitar as frases-explicativas-óbvias tão temidas em roteiros deste tipo, como a da personagem de Charlize Theron, ao acompanhar de Prometheus David à uma nova câmara inexplorada no complexo existente no planeta: "He cut me off!". Desnecessário.

O roteiro possui alguns erros de descontinuidade e alguns buracos, mas que são esquecidos pelo ritmo incessante e envolvente da direção. Como em Lost (adivinha que é um dos autores do roteiro?), não há respostas para tudo, mas responde-se a algumas perguntas do primeiro Alien. O Space Jockey deixa de ser um enigma e o desenvolvimento da história se aproxima vagarosamente da atmosfera Alien, para deleite dos fãs. A última cena é uma homenagem previsível, mas bem-vinda.

Fassbender e Rapace estão geniais e ofuscam qualquer outro membro da tripulação. Tripulação esta que é um dos grandes defeitos do filme; afinal, 17 membros são personagens coadjuvantes demais até mesmo para uma minissérie. Ficam sub-aproveitadas especialmente as personagens de Theron, Idris Elba e Guy Pearce.

Para finalizar e apesar dos defeitos, Prometheus é uma excelente obra de resgate da quadrilogia alienígena, que se atolou num mar de lama. O Oitavo Passageiro continua sendo a obra-prima, mas este chega bem perto: é uma homenagem à altura do clássico de 79. Afinal, jamais haverá Predador, ou James Cameron, ou Dan Aykroyd, capaz de competir com o melhor alienígena de cabeça cônica!

Daniel Lima

sexta-feira, 15 de junho de 2012

[CRÍTICA] O Ditador (The Dictator, 2012)

 Trailer de O Ditador

Sacha Baron Cohen consagrou o pastelão politicamente incorreto através de mockumentários (documentários com o propósito de tirar sarro), estilo marcante em Borat: Cultural Learnings Of America For Make Benefit Glorious Nation Of Kazakhstan (Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja À América, 2006) e Brüno (Bruno, 2009). Aqui, em The Dictator, porém, ele abandona este estilo e realiza seu primeiro filme comercial. Apesar disso, Cohen mostra que seu humor continua afiado (apesar de um pouco mais contido) e arranca gargalhadas a cada piada com sua nova personagem: o General Aladeen.

A trama acompanha o Supremo Líder General Aladeen (Sacha Baron Cohen) do fictício reino árabe Wadiya, à medida que ele tenta construir uma arma nuclear. Embargado pela desconfiança da ONU, ele se vê obrigado a realizar um discurso em solo americano, para enganar as outras nações. Lá, ele se torna vítima de um golpe de seu braço-direito Tamir (Ben Kingsley), que pretende transformar Wadiya numa democracia e "vendê-la" para seus sócios capitalistas.

Como já era de se esperar, a película é repleta de críticas à democracia, à maneira como ela existe hoje, e de referências à cultura ocidental, desde Hollywood a Justin Bieber. As cenas de Aladeen trabalhando como empregado do mercado são hilárias. Mas, transformar o mercado em uma pequena ditadura realmente é uma sacada genial. Isso sem contar a cena do do helicóptero, com diálogos sensacionais. É de chorar de rir.

Finalmente, Cohen volta à velha forma que o consagrou há seis anos. Com sua canastrice e “ingenuidade”, eleva o humor negro ao melhor estilo de humor que se pode encontrar atualmente, em um mundo tão hipócrita e velado. Desta vez, porém, ele está cercado de um elenco de peso, garantindo qualidade ao restante das cenas, com Kingsley, Anna Faris e John C. Reilly. Apesar disso, Cohen se destaca em todas as cenas e leva o filme nas costas, mas, de todos, Jason Mantzoukas é quem consegue se sobressair melhor com ele por perto.

Enfim, Larry Charles faz o feijão com arroz e deixa quase tudo nas mãos de Cohen, o que mais uma vez se mostra uma decisão acertada. Assim, temos outra personagem impagável de um dos melhores humoristas da atualidade. E mais: um filme que, apesar de comercial, não parece ter a idéia de agradar a maioria, mas sim apenas os fãs do humor ácido e contundente de Cohen. E é melhor você rir, caso contrário, corre sério risco de que sua cabeça seja a próxima a rolar.

Daniel Lima

quinta-feira, 14 de junho de 2012

[CRÍTICA] Poder Sem Limites (Chronicle, 2012)

Trailer de Poder Sem Limites

Particularmente, eu sempre refutei a grande máxima do Tio Ben: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades.” Chronicle, de Josh Trank, veio para me apoiar em tal contestação e mostrar ao Spidey que ele poderia ter tido outras opções. Algumas mais divertidas, outras mais psicopáticas; entretanto, Trank soube muito bem como tratá-las em seu primeiro trabalho no cinema.

Como sinopse, temos três adolescentes, Andrew (Dane DeHaan), Matt (Alex Russell) e Steve (Michael B. Jordan), que descobrem um artefato misterioso e ganham poderes telecinéticos da noite para o dia. Ao desenvolverem seus poderes, eles se desentendem, à medida que cada um tem de lidar com suas próprias ambições e conflitos interiores.

A estética é a mesma que ficou famosa em The Blair Witch Project (A Bruxa De Blair, 1999): câmera tremida nas mãos dos próprios atores, cortes bruscos e interferências. Provavelmente escolhida para se encaixar em um baixo orçamento, fica claro ao final do filme que valeu a pena. Além disso, traz um tom mais inovador, imersivo e realista à história e ao drama dos protagonistas, curiosamente estereotipados (como em qualquer filme high-school norte-americano), porém sem se tornar caricaturais.

Em diversas cenas, são abordados a imaturidade dos protagonistas e o dilema que consiste em o que fazer com tanto poder. No entanto, o único que parece fazer algum progresso é Andrew, uma mistura de Magneto com Tetsuo, e sua teoria sobre o apex predator (ou homo superior). Já os principais defeitos do filme são a previsibilidade e o foco excessivo em Andrew. Acho que Matt e Steve poderiam ter sido personagens mais desenvolvidas. Por exemplo, ao final, é mais fácil justificar os erros de Andrew devido ao seu passado, do que apoiar Matt em sua defesa ao coletivo ou “bem cristão”.

O filme é despretensioso, simples, e com belas tomadas. O duelo final, entretanto é homérico: deixará qualquer fã de anime boquiaberto... Após o fiasco Dragonball Evolution (Dragonball Evolution, 2009), Chronicle veio para se enfiar no meio de Akira (Akira, 1988) e as duas partes de seu futuro remake já anunciado. E o melhor: não faz feio não! Espero que fique aqui a dica para a Warner Bros!

Enfim, de qualquer forma, grande estréia para Trank, que prova que não precisa de centenas de milhões de dólares para realizar um filme inteligente e divertido sobre super-heróis. Demolidor, Motoqueiro-Fantasma, Quarteto Fantástico, Hulk, Constantine, Spawn e Wolverine (e outros!) devem está se remoendo em seus gibis: heróis de grande poder e renome, mas com películas extremamente inferiores às dos desconhecidos e telecinéticos Andrew, Matt e Steve!

Daniel Lima

domingo, 10 de junho de 2012

[CRÍTICA] John Carter - Entre Dois Mundos (John Carter, 2012)


Trailer de John Carter - Entre Dois Mundos

Desde o alarde que Pirates Of The Caribbean: The Curse Of The Black Pearl (Piratas Do Caribe – A Maldição Do Pérola Negra, 2003) causou nos cofres hollywoodianos, a Walt Disney Pictures está flertando com o combinado entre ficção-fantasia, em busca da oportunidade de copiar uma das mais bem sucedidas trilogias (em bilheterias) de todos os tempos. The Chronicles Of Narnia: The Lion, The Witch And The Wardrobe (As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira E O Guarda-roupa, 2005), Prince Of Persia: The Sands Of Time (Príncipe Da Pérsia – As Areias Do Tempo, 2010) e The Sorcerer’s Apprentice (O Aprendiz De Feiticeiro, 2010) foram exemplos óbvios destas tentativas, mas que (apesar de algumas continuações insistentes) fracassaram. Até Tron (Tron – Uma Odisséia Eletrônica, 1982), seu clássico oitentista sofreu uma (pífia!) tentativa de reboot, tamanha é a sede disneyana de conseguir uma nova franquia rentável como os caribenhos foras-da-lei. Enfim, John Carter é mais uma de suas tentativas. Uma cara e inexplicavelmente ruim tentativa.

Baseado na personagem criada por Edgar Rice Burroughs (mais famoso como o criador de Tarzan), em 1912, o filme conta a história de John Carter (Taylor Kitsch), veterano da Guerra Civil Americana que é misteriosamente transportado para Marte. Agora, ele deve adaptar-se ao novo planeta, enquanto tenta sobreviver a uma tribo de bárbaros (os tharks) e salvar Dejah (Lynn Collins), a princesa de uma cidade prestes a ser massacrada.

O roteiro é fraco, com coincidências demais e repleto de clichês. Há a cena da arena de Star Wars: Episode II – The Attack Of The Clones (Star Wars: Episódio II – Ataque Dos Clones, 2002), com mais e melhores efeitos (mas muito, muito menos criativa!), a ambientação de Dune (Duna, 1984), o figurino mix de Spartacus (Spartacus, 1960) e Barbarella (Barbarella, 1968), o romance batido entre mocinha e herói, que mesmo assim funcionou tão bem em Avatar (Avatar, 2009), etc.  Como se pode ver, várias referências foram citadas até agora. E nada, absolutamente nada disso funciona em John Carter.

Porém, o maior ponto fraco da película é mesmo John Carter. O protagonista é mal apresentado e pobremente construído. A “bravura” que se tenta mostrar no início é risível e Carter se comporta mais como um cachorro estúpido e irracional que tenta morder a mão de seu dono. O roteiro ainda apresenta algumas tentativas de se redimir e desenvolver a personagem principal, como a bela (e curta!) cena de batalha e de seu passado. No entanto, fica por aí. O protagonista continua tão burro que o final se torna inaceitável. É como se o Conan engendrasse um plano à la Prof. Moriarty. Além disso, não há motivação para o herói; não há carisma para sua liderança; não há explicações razoáveis para nada na trama (além das sacais coincidências). O romance “instantaneamente” brotado entre ele e a princess of Mars é forçado demais para mover uma guerra sozinho.  Nada convence (exceto a raça marciana thark, mas isso é graças aos efeitos visuais). Entretanto, nada disso é culpa de Kitsch, que, com sua inexperiência e falta de talento, não pode fazer muita coisa pra reverter o quadro.

A fotografia e a trilha sonora se salvam. A raça marciana thark é convincente e as cenas de ação bem feitas, porém sem que nada novo seja introduzido. As atuações em geral são fracas, salvando-se apenas Mark Strong, como o vilanesco Matai Shang. É um projeto que parece ter consumido recursos altíssimos com a intenção de se tornar um grande épico, mas, em termos de comparações, está mais para um Waterworld (Waterworld - O Segredo Das Águas, 1995) do século XXI.

Enfim, a primeira “aventura” de Andrew Stanton, consagrado por suas animações Finding Nemo (Procurando Nemo, 2003) e Wall-E (Wall-E, 2008), no terreno dos live-action não poderia ter sido mais desastrosa. Um filme ruim e justamente mal recebido pelo público que só nos deixa a indignação: o que foi feito com tanto dinheiro?

Daniel Lima

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Cartas de amor de homens notáveis‏

O livro Cartas de amor de homens notáveis, editado por Ursula Doyle, mostra as mais belas declarações já feitas por homens famosos de todas as épocas. Nada como: "Mulher, saia daqui! Estou procurando mulheres, e não deusas.", mas sim "Penso que um homem razoável poderia viajar feliz três ou quatro mil léguas para contemplar tuas qualidades e tua inteligência em sua plena perfeição." Quer prova maior que essa?

Napoleão, Mozart, Diderot, Darwin, Beethoven e outros fazem parte dessa compilação que atinge todas os períodos históricos. Afinal de contas, como demonstra Shakespeare em suas peças, o amor é atemporal.

O livro faz uma síntese da vida do apaixonado e depois desvela toda a sua doçura e habilidade na pena ao buscar elevar os seus sentimentos em relação à amada.

Cartas de amor de homens notáveis não deveria ser lido pela nossa geração, mas sim devidamente decorado. Porque, até onde se sabe, rosas vermelhas e palavras sinceras nunca caem em descrédito.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Delta de vênus - Anaïs Nin‏

Anaís Nin é uma escritora francesa, que nasceu no início do século 20. Aos 11 anos, conheceu os EUA e, desde então, alternou a sua vida entre os dois continentes. Escritora conhecida por uma literatura erótica amplamente divulgada e difundida, Anaïs foi uma das maiores influências intelectuais da sua época.

O livro Delta de vênus nos traz uma compilação de textos eróticos, escritos por encomenda ao preço de um dólar por página. Com diversos fetiches e taras, as histórias tentam tratar da relação sexual da maneira mais crua possível: sem fantasias, enredos mirabolantes e uma ênfase nas descrições do ato em si. Felizmente, Anaïs não consegue atingir esse intento - o que acaba trazendo a nós, leitores, características de uma escrita feminina e um estilo muito pessoal.

Um dos contos que mais gosto se chama O aventureiro húngaro. Nesse texto, temos um homem nobre, o Barão, que se aproveita de mulheres ricas para aumentar a própria fortuna. Conhecido como um amante de marca maior, o Barão acaba se deleitando até mesmo com atos incestuosos com as filhas. Há um trecho em que ele diz, ao encontrá-las adolescentes: "- Como vocês são lindas, as duas. Estou muito orgulhoso de vocês. Não posso deixá-las dormir sozinhas. Faz muito tempo que eu não vejo vocês".
De atos incestuosos e páginas cobertas de lesbianismo, Anaïs Nin dá um show no que se refere à sexualidade não promíscua.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

[CRÍTICA] Os Vingadores - The Avengers (The Avengers, 2012)

Trailer de Os Vingadores - The Avengers

Instalado no meu cérebro por uma raça desconhecida de alienígenas, por duas vezes meu nerdômetro estourou no cinema. A primeira foi com The Lord Of The Rings: The Return Of The King (O Senhor Dos Anéis: O Retorno Do Rei, 2003), e a segunda, com The Dark Knight (Batman – O Cavaleiro Das Trevas, 2008). A Marvel, responsável por povoar a imaginação de crianças, jovens e nerds adultos (eu!) por mais de meio século, sempre foi uma das candidatas mais fortes a estourá-lo e eu esperava por isso ansiosamente, a cada lançamento de seus filmes. Entretanto, ao contrário do que acontecia em suas HQs, era decepção atrás de decepção. The Avengers prova que valeu a pena a espera.

A evolução da Casa Das Idéias no cinema é tortuosa e inconstante. A década de 80 (praticamente sua estréia na Sétima Arte) e início dos anos 90 foi um começo penoso e que resultou em filmes horríveis, como Howard The Duck (Howard – O Super-Herói, 1986) e Captain America (Capitão América, 1990). Isso sem mencionar a pérola que nunca foi lançada (vetada pela própria Marvel!): Fantastic Four (Quarteto Fantástico, 1994), dirigida por um dos mestres dos filmes B, Roger Corman. Por fim, a Marvel se acertou com Blade (Blade - O Caçador De Vampiros, 1998) e X-Men (X-Men: O Filme, 2000).

No geral, a antiga e criativa editora não possui um histórico cinematográfico digno de suas (MARVELous!) personagens. Com títulos como Daredevil (Demolidor - O Homem Sem Medo, 2003), Hulk (Hulk, 2003), Fantastic Four (Quarteto Fantástico, 2005), Ghost Rider (Motoqueiro Fantasma, 2007) - e aqui faço questão de não mencionar sua odiosa sequência -, X-Men Origins: Wolverine (X-Men Origens: Wolverine, 2009), Thor (Thor, 2011), entre outros, a Marvel possui uma carreira numerosa, porém de pouca qualidade cinematográfica. Não obstante, ela é responsável por algumas das grandes obras-primas baseadas em HQ, como Spider-Man (Homem-Aranha, 2002), Iron Man (Homem De Ferro, 2008) e X-Men: First Class (X-Men: Primeira Classe, 2011). Além disso, várias sequências funcionaram e são bons filmes. Porém, a editora merecia algo à sua altura e já estava mais que na hora da sua irmã dos cinemas lançar O FILME.

O FILME se chama The Avengers. Quando a Terra é ameaçada por um semi-deus de outro plano, Lóki (Tom Hiddleston), e um exército alienígena, a salvação pode ser Os Vingadores, equipe de super-seres reunida por Nicky Fury (Samuel L. Jackson), diretor da unidade especial S.H.I.E.L.D. (Strategic Hazard Intervention Espionage Logistics Directorate). Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo, como Bruce Banner), Gavião-Arqueiro (Jeremy Renner) e Viúva-Negra (Scarlett Johansson), porém, terão de enfrentar seus egos, antes de poderem se tornar a única esperança do planeta.

Para começar, é difícil, muito difícil, falar sobre o filme. Por quê? Bom, enquanto as meninas sonhavam com as princesas disneyanas, nós, os meninos, nos divertíamos com os heróis Marvel, seja através dos gibis, seja através dos cartoons. Mais que isso: nós nos espelhávamos neles. Apesar da DC Comics também ter sua parcela de influência (em grande parte devido somente ao Super Homem e ao Batman), era a Marvel que diversificava e atendia aos nossos corações individuais. A quantidade de personagens criadas pelo Zeus do panteão nérdico, Stan Lee, é imensa e há um herói para cada um, para cada tipo de gosto. A propósito, como em todo filme de personagem criada por ele, há uma ponta sua (geralmente cômica), em homenagem a si mesmo. Homenagens estas mais que merecidas, pelo papel que teve como grande condutor dos sonhos infantis de cada nerd.

Devaneios à parte, vamos ao filme. Com pouca e irrelevante experiência no cinema, Joss Whedon, construiu sua carreira através de séries de TV, focadas em várias personagens. Em The Avengers, ele cria um espetáculo com sólida sincronia dos heróis. Retocando o roteiro aqui e ali, podemos ver o esmero com que ele nos apresenta cada protagonista. As atitudes e traços de personalidade estão fortes e transparentes em cada um, e todos têm o seu papel fundamental no grupo. Caso lesse o roteiro sem os respectivos nomes, um fã conseguiria descobrir o autor de cada frase ou que heróis estariam presentes em certo diálogo. Ouvi-los conversando ou discutindo entre si é música, um poema para os ouvidos de quem cresceu lendo suas histórias. A perfeita coesão e a fidelidade às HQs são os maiores méritos de Whedon aqui.

É acertada a idéia de ir contra a tendência de noirizar as películas baseadas em super-heróis, que toma conta de Hollywood ultimamente. Hulk está lá, verde; o Homem de Ferro, vermelho e amarelo; Capitão América, azul, vermelho e branco; e Lóki, verde e amarelo (não, ele não é brasileiro; é asgardiano!). Um turbilhão de cores. A Marvel é colorida e espalhafatosa, destruindo porta-aviões, prédios, cidades inteiras. A Marvel é marvelous e os Vingadores devem ser e são retratados assim.

O início é um pouco lento, ambientando o telespectador mais leigo. Isso não significa que os fãs são esquecidos; ao contrário, os alívios cômicos desta primeira parte (presentes em grande número em toda a película e sempre bem colocados), principalmente os de Stark, são para todos, mas essencialmente para nós, os fãs mais ferrenhos. Após as introduções, porém, o ritmo do filme é intenso. Ação quase ininterrupta, com trama lógica e inteligente, porém sem muitas surpresas e com bom humor sempre.

É interessante a presença do Agente Coulson (Clark Gregg), personagem criada apenas para o filme, como um link entre os heróis e nós, meros mortais. Qual de nós não gostaria de ter nossos gibis (ou até mesmo a coleção inteira!) autografados pelo verdadeiro (e real!) Capitão América? Downey Jr. está ótimo como sempre, mas creio que já estamos acostumados com seu talento. Portanto, Ruffalo aqui se destaca; está sempre estampado no seu rosto o tormento que é a convivência com sua contra-parte. Quando ele finalmente revela o segredo de como controla o Hulk é que entendemos isso. Mas quem, de fato, rouba todas as cenas é Hiddleston. Apesar de não ter gostado de Thor (Thor, 2011), ele é um dos pontos fortes do filme do deus do trovão e aqui ele atinge seu auge: frio, esperto, obcecado, egocêntrico e irônico. Hiddleston atira insanidade com apenas um olhar.

A trilha sonora é imersiva e a fotografia é impressionante. Tudo é belíssimo, sem aquela confusão e tremidas de câmera, características de filmes-pipoca apelativos. Os ângulos dinâmicos e os planos-sequência criativos levarão muitos nerds ao orgasmo. Orgasmos múltiplos, por sinal. Eu, pessoalmente, odeio o trabalho Michael Bay, mas fica praticamente impossível não comparar The Avengers com uma de suas obras (especialmente se for um dos seus Transformers). Para aqueles que defendem seu cinema canastrão de destruição e efeitos, desafio-os a assistir The Avengers. Quero ver se alguém tem coragem de dizer que ele sabe filmar ação, depois das tomadas em que todos os Vingadores são, em sequência, captados em movimentos enérgicos. Ah, Bay, volta pra escola!

Entretanto, o grande mérito do filme é o respeito. The Avengers respeita não apenas cada franquia já  estabelecida no cinema da Marvel, mas, principalmente, os fãs. É como se tivessem feito cada um dos heróis caracterizados nos reverenciar. Sentimos que a Casa das Idéias não queria um filme em que suas maiores criações simplesmente lutassem para salvar o planeta. Ela não queria que eles lutassem POR nós. Queria que eles lutassem PARA nós. Nisso, eles obteram o maior êxito de sua história.

The Avengers é a maior obra-prima da Marvel. Meu nerdômetro não resistiu e estourou pela terceira, quarta, quinta, sexta... (!) vez, ao som de cada energy-blast do Homem de Ferro, cada flechada do Gavião-Arqueiro, cada martelada de Thor, cada punch do Hulk, cada pontapé da Viúva-Negra, e cada shield-tossing do Capitão América. The Avengers é uma ode à Marvel, aos fãs, aos seus heróis; enfim, é como o Hulk: The Avengers smash!

P.S.: ATENÇÃO!!! ESPEREM PELA CENA PÓS-CRÉDITOS!!! 

Daniel Lima