sexta-feira, 27 de abril de 2012

[CRÍTICA] Os Vingadores - The Avengers (The Avengers, 2012)

Trailer de Os Vingadores - The Avengers

Instalado no meu cérebro por uma raça desconhecida de alienígenas, por duas vezes meu nerdômetro estourou no cinema. A primeira foi com The Lord Of The Rings: The Return Of The King (O Senhor Dos Anéis: O Retorno Do Rei, 2003), e a segunda, com The Dark Knight (Batman – O Cavaleiro Das Trevas, 2008). A Marvel, responsável por povoar a imaginação de crianças, jovens e nerds adultos (eu!) por mais de meio século, sempre foi uma das candidatas mais fortes a estourá-lo e eu esperava por isso ansiosamente, a cada lançamento de seus filmes. Entretanto, ao contrário do que acontecia em suas HQs, era decepção atrás de decepção. The Avengers prova que valeu a pena a espera.

A evolução da Casa Das Idéias no cinema é tortuosa e inconstante. A década de 80 (praticamente sua estréia na Sétima Arte) e início dos anos 90 foi um começo penoso e que resultou em filmes horríveis, como Howard The Duck (Howard – O Super-Herói, 1986) e Captain America (Capitão América, 1990). Isso sem mencionar a pérola que nunca foi lançada (vetada pela própria Marvel!): Fantastic Four (Quarteto Fantástico, 1994), dirigida por um dos mestres dos filmes B, Roger Corman. Por fim, a Marvel se acertou com Blade (Blade - O Caçador De Vampiros, 1998) e X-Men (X-Men: O Filme, 2000).

No geral, a antiga e criativa editora não possui um histórico cinematográfico digno de suas (MARVELous!) personagens. Com títulos como Daredevil (Demolidor - O Homem Sem Medo, 2003), Hulk (Hulk, 2003), Fantastic Four (Quarteto Fantástico, 2005), Ghost Rider (Motoqueiro Fantasma, 2007) - e aqui faço questão de não mencionar sua odiosa sequência -, X-Men Origins: Wolverine (X-Men Origens: Wolverine, 2009), Thor (Thor, 2011), entre outros, a Marvel possui uma carreira numerosa, porém de pouca qualidade cinematográfica. Não obstante, ela é responsável por algumas das grandes obras-primas baseadas em HQ, como Spider-Man (Homem-Aranha, 2002), Iron Man (Homem De Ferro, 2008) e X-Men: First Class (X-Men: Primeira Classe, 2011). Além disso, várias sequências funcionaram e são bons filmes. Porém, a editora merecia algo à sua altura e já estava mais que na hora da sua irmã dos cinemas lançar O FILME.

O FILME se chama The Avengers. Quando a Terra é ameaçada por um semi-deus de outro plano, Lóki (Tom Hiddleston), e um exército alienígena, a salvação pode ser Os Vingadores, equipe de super-seres reunida por Nicky Fury (Samuel L. Jackson), diretor da unidade especial S.H.I.E.L.D. (Strategic Hazard Intervention Espionage Logistics Directorate). Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo, como Bruce Banner), Gavião-Arqueiro (Jeremy Renner) e Viúva-Negra (Scarlett Johansson), porém, terão de enfrentar seus egos, antes de poderem se tornar a única esperança do planeta.

Para começar, é difícil, muito difícil, falar sobre o filme. Por quê? Bom, enquanto as meninas sonhavam com as princesas disneyanas, nós, os meninos, nos divertíamos com os heróis Marvel, seja através dos gibis, seja através dos cartoons. Mais que isso: nós nos espelhávamos neles. Apesar da DC Comics também ter sua parcela de influência (em grande parte devido somente ao Super Homem e ao Batman), era a Marvel que diversificava e atendia aos nossos corações individuais. A quantidade de personagens criadas pelo Zeus do panteão nérdico, Stan Lee, é imensa e há um herói para cada um, para cada tipo de gosto. A propósito, como em todo filme de personagem criada por ele, há uma ponta sua (geralmente cômica), em homenagem a si mesmo. Homenagens estas mais que merecidas, pelo papel que teve como grande condutor dos sonhos infantis de cada nerd.

Devaneios à parte, vamos ao filme. Com pouca e irrelevante experiência no cinema, Joss Whedon, construiu sua carreira através de séries de TV, focadas em várias personagens. Em The Avengers, ele cria um espetáculo com sólida sincronia dos heróis. Retocando o roteiro aqui e ali, podemos ver o esmero com que ele nos apresenta cada protagonista. As atitudes e traços de personalidade estão fortes e transparentes em cada um, e todos têm o seu papel fundamental no grupo. Caso lesse o roteiro sem os respectivos nomes, um fã conseguiria descobrir o autor de cada frase ou que heróis estariam presentes em certo diálogo. Ouvi-los conversando ou discutindo entre si é música, um poema para os ouvidos de quem cresceu lendo suas histórias. A perfeita coesão e a fidelidade às HQs são os maiores méritos de Whedon aqui.

É acertada a idéia de ir contra a tendência de noirizar as películas baseadas em super-heróis, que toma conta de Hollywood ultimamente. Hulk está lá, verde; o Homem de Ferro, vermelho e amarelo; Capitão América, azul, vermelho e branco; e Lóki, verde e amarelo (não, ele não é brasileiro; é asgardiano!). Um turbilhão de cores. A Marvel é colorida e espalhafatosa, destruindo porta-aviões, prédios, cidades inteiras. A Marvel é marvelous e os Vingadores devem ser e são retratados assim.

O início é um pouco lento, ambientando o telespectador mais leigo. Isso não significa que os fãs são esquecidos; ao contrário, os alívios cômicos desta primeira parte (presentes em grande número em toda a película e sempre bem colocados), principalmente os de Stark, são para todos, mas essencialmente para nós, os fãs mais ferrenhos. Após as introduções, porém, o ritmo do filme é intenso. Ação quase ininterrupta, com trama lógica e inteligente, porém sem muitas surpresas e com bom humor sempre.

É interessante a presença do Agente Coulson (Clark Gregg), personagem criada apenas para o filme, como um link entre os heróis e nós, meros mortais. Qual de nós não gostaria de ter nossos gibis (ou até mesmo a coleção inteira!) autografados pelo verdadeiro (e real!) Capitão América? Downey Jr. está ótimo como sempre, mas creio que já estamos acostumados com seu talento. Portanto, Ruffalo aqui se destaca; está sempre estampado no seu rosto o tormento que é a convivência com sua contra-parte. Quando ele finalmente revela o segredo de como controla o Hulk é que entendemos isso. Mas quem, de fato, rouba todas as cenas é Hiddleston. Apesar de não ter gostado de Thor (Thor, 2011), ele é um dos pontos fortes do filme do deus do trovão e aqui ele atinge seu auge: frio, esperto, obcecado, egocêntrico e irônico. Hiddleston atira insanidade com apenas um olhar.

A trilha sonora é imersiva e a fotografia é impressionante. Tudo é belíssimo, sem aquela confusão e tremidas de câmera, características de filmes-pipoca apelativos. Os ângulos dinâmicos e os planos-sequência criativos levarão muitos nerds ao orgasmo. Orgasmos múltiplos, por sinal. Eu, pessoalmente, odeio o trabalho Michael Bay, mas fica praticamente impossível não comparar The Avengers com uma de suas obras (especialmente se for um dos seus Transformers). Para aqueles que defendem seu cinema canastrão de destruição e efeitos, desafio-os a assistir The Avengers. Quero ver se alguém tem coragem de dizer que ele sabe filmar ação, depois das tomadas em que todos os Vingadores são, em sequência, captados em movimentos enérgicos. Ah, Bay, volta pra escola!

Entretanto, o grande mérito do filme é o respeito. The Avengers respeita não apenas cada franquia já  estabelecida no cinema da Marvel, mas, principalmente, os fãs. É como se tivessem feito cada um dos heróis caracterizados nos reverenciar. Sentimos que a Casa das Idéias não queria um filme em que suas maiores criações simplesmente lutassem para salvar o planeta. Ela não queria que eles lutassem POR nós. Queria que eles lutassem PARA nós. Nisso, eles obteram o maior êxito de sua história.

The Avengers é a maior obra-prima da Marvel. Meu nerdômetro não resistiu e estourou pela terceira, quarta, quinta, sexta... (!) vez, ao som de cada energy-blast do Homem de Ferro, cada flechada do Gavião-Arqueiro, cada martelada de Thor, cada punch do Hulk, cada pontapé da Viúva-Negra, e cada shield-tossing do Capitão América. The Avengers é uma ode à Marvel, aos fãs, aos seus heróis; enfim, é como o Hulk: The Avengers smash!

P.S.: ATENÇÃO!!! ESPEREM PELA CENA PÓS-CRÉDITOS!!! 

Daniel Lima

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