Trailer de O Príncipe Do Deserto
Um dos maiores problemas de Hollywood nos últimos anos é o de tentar emplacar um épico como grande sucesso de crítica e bilheteria. Troy (Tróia, 2004) Alexander (Alexandre, 2004), Kingdom Of Heaven (Cruzada, 2005), Immortals (Imortais, 2011), etc., são exemplos de alguns dos últimos fracassos do gênero. Dessa vez, portanto, a culpa não é de Hollywood. Black Gold é uma produção de França, Itália, Tunísia e Catar, baseado no livro do suíço Hans Reusch, South Of The Heart, de 1957. Porém, como seus colegas ianques, Jean-Jacques Annaud peca ao tentar fazer um épico com cara de blockbuster.
A película conta a história de dois líderes que travam uma trégua, após uma guerra pela faixa de terra desértica conhecida como Cinturão Amarelo. Pela trégua, Ammar (Mark Strong), sultão do lado perdedor, é obrigado a entregar seus dois filhos para Nesib (Antonio Banderas), sultão vencedor, como garantia de manutenção da paz. Quando estrangeiros descobrem petróleo no terreno neutro, um novo embate entre Nesib e Amar se faz iminente. Caberá então a Auda (Tahar Rahim), o filho caçula de Ammar, a escolha entre o coração da sua amada e filha de Nesib, Leyla (Freida Pinto), e liderar seu povo, ao lado de seu pai.
A história é fictícia: nem os povos, nem a região, nem as personagens de fato existiram. Entretanto, Annaud tenta trazer realidade ao público. Mas falha muito feio. Falha porque fica realmente difícil acreditar na abordagem simplória ao redor de tema tão complexo e estratégico, como o petróleo. E falha de novo ao abordar a política teocrática de um estado conservador. Por exemplo, quando Auda chega ao seu lar, encontra Amar, seu pai, cercado por conselheiros religiosos e fanáticos. De uma hora para outra, Amar começa a tomar as decisões sozinho, e o filme ignora completamente os aparentemente poderosos e influentes conselheiros pré-apresentados. Fica uma sensação de que Annaud não sabia lidar com o tema e decidiu abandoná-lo ao longo do filme. Outra coisa que me incomodou bastante foi o clima politicamente correto, forçado e excessivo.
Mas Black Gold tem seus méritos. Annaud deixa precisamente claro o embate entre o liberalismo e o conservadorismo. De um lado, Nehib, um ditador progressista (como se pode ver pela sua declaração: “Idiot! I decide who is an infidel!” e pelo uso que faz do dinheiro derivado da extração do ouro negro), e, do outro, Ammar, um líder teocrata e conservador. A produção tenta tapar a superficialidade da história com uma bela fotografia e produção suntuosa. Faz isso com muito êxito; após alguns tropeços iniciais, o filme consegue captar o telespectador e finalmente trazê-lo para o meio do deserto. O pouco uso de CGI é uma façanha nos dias de hoje e escolha mais que acertada. As cenas de batalha são bem feitas, intensas e emocionantes. Aplausos para o foco estratégico que permeia toda a guerra.
Além disso, Annaud conduz bem o dilema interno de Auda, entre sua amada e sua família. O desenvolvimento da personagem principal é um dos destaques, com Rahim interpretando um tímido e inapto jovem que amadurece e por fim se torna um líder respeitado. Strong, apesar de parecer meio engessado, cumpre bem seu papel. Pinto, porém, encontra-se dramática demais. Mas o destaque negativo é (por incrível que pareça) Banderas, numa atuação caricata e que não faz jus à sua carreira. Com um ar excessivamente canastrão, mais parece um cafetão que o líder político e sensato de um povo.
A trilha sonora possui seus altos e baixos. De início, é arrastada e melodramática demais, especialmente nas cenas entre Auda e Leyla. No entanto, engrena ao longo do filme, acompanhando bem as batalhas e por vezes tecendo comparações à Lawrence Of Arabia (Lawrence Da Arábia, 1962).
No geral, Black Gold é uma película que vale a sessão, graças ao esmero de Annaud e de sua produção. Apesar dos seus defeitos, diverte e causa impacto. Não é um épico inesquecível, porém, em comparação aos outros exemplos recentes e citados anteriormente, pode-se dizer que ainda há uma chama de esperança para o gênero. Só espero que haja mais combustível além deste ouro negro para mantê-la acesa.
Daniel Lima
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