Trailer de Um Método Perigoso
David Cronenberg é conhecido por alguns clássicos, como The Dead Zone (A Hora da Zona Morta, 1983) e The Fly (A Mosca, 1986), e aclamado pelo A History Of Violence (Marcas Da Violência, 2005), que, particularmente, não gostei. Um diretor com altos e baixos em sua carreira, mas que atinge seu ápice ao concluir esta que pode ser considerada sua obra-prima: A Dangerous Method (2011).
A história conta o desenvolvimento de uma das mais férteis e intrigantes amizades entre dois gênios da ciência, os ícones da psicanálise Carl Jung (Michael Fassbender) e Sigmund Freud (Viggo Mortensen). O filme começa com Jung recebendo sua mais famosa paciente (futura assistente e uma das primeiras mulheres psicanalistas), Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma russa, filha de ricos mercadores judeus.
Desde o início, Cronenberg utiliza-se da figura central de Jung para apresentar a dualidade entre as várias personagens. A dualidade médico-paciente entre Jung e Spielrein; repressão-liberdade, com Jung e Gross (Vincent Cassel). Com Freud, há uma infinidade de aspectos duais: o cético vs. o crédulo, o judeu vs. o ariano, o pobre vs. o abastado, etc. Estas dualidades são o que torna o filme rico e permeado de geniais debates filosóficos. Apesar de possuir uma certa profundidade psicanalítica, estas discussões acerca de temas inquietantes (que até hoje são considerados tabus), como monogamia, traumas, sexualidade, perversões, etc., são debatidas abertamente em termos fáceis e objetivos para que os telespectadores leigos também possam compreender. A narrativa é leve e objetiva; brilhante no seu modo de conduzir os temas pesados, mas também os cotidianos, como o amor, a família e a amizade.
As tão famigeradas e consideradas “perversões sexuais” também são apresentadas, porém de maneira leve, sem vulgaridade, mas ainda assim bem sensuais, sejam diálogos ou cenas. A química entre Jung e Spielrein é excitante. Até a eterna piada em relação à “obsessão” de Freud por sexo está lá, inserida de modo sutil num inteligente debate entre Jung e Gross.
A dupla de atores principais (Fassbender-Mortensen) estão excelentes. Cumprem mais que suas obrigações em humanizar os gênios representados. Fassbender transmite o conflito que sua vida se torna ao conhecer Spielrein e Freud e ao se aprofundar em suas idéias e pesquisas. Conflitos éticos, científicos, morais e sexuais, para os quais não encontra respostas. Freud é maduro, avaliador, misterioso e mais centrado. Seria Jung inovador e Freud o egocêntrico conservador, que tenta refreá-lo? Ou seria Freud realista, tentando reprimir o idealismo de Jung para proteger o futuro da psicanálise em meio a uma sociedade conservadora? A iminência das guerras na Europa como pano de fundo valida o medo de Freud? Enfim, o que colocou um ponto final na amizade entre eles: suas divergências metodológicas ou seus egos?
Vale destacar Knightley, perfeita, em talvez a melhor atuação de sua carreira. Cassel também está ótimo, em uma aparição rápida, mas que deixa a sua marca, mesmo entre tanto brilhantismo. A direção de arte é impecável; destaque para a cenografia, com locações belíssimas.
É um filme para se pensar, refletir e rever conceitos. É um contraste entre diálogos profundos e o visual encantador da Europa Central. Cronenberg dirige um filme áspero de se fazer com a leveza e a facilidade de um mestre. Sem dúvida um dos melhores filmes de 2011 e que poderia ser, mesmo sem sequer ter sido indicado ao Oscar, um concorrente de peso ao prêmio de melhor filme do ano.
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