Trailer de Meia-noite Em Paris
Em seus últimos filmes, Woody Allen abandonou a América e migrou para o Velho Continente. Londres, Barcelona e, finalmente, Paris. Ah, la belle Paris! Já no início da película, o cineasta apresenta a cidade em uma série de tomadas. Os movimentos e as cores da cidade mais romântica do mundo são registrados por sua nostálgica e bem posicionada câmera. Pronto. Sua atenção está capturada e você se tornou mais uma vítima de uma das mais brilhantes ambientalizações do cinema.
A história gira em torno de Gil (Owen Wilson), um roteirista aspirante à escritor em busca de inspiração na capital francesa. É curioso tentar imaginar como ele, um romântico e sonhador artista, pode ter se casado com Inez (Rachel McAdams), sua materialista e "patricinha" esposa. A aventura fantástica começa quando Gil, alheio à chatice dos passeios que sua mulher insiste em fazer com um casal de amigos que encontram em sua viagem, decide se embrenhar pelas ruas da noite parisiense.
Magicamente, Gil mergulha na Paris dos anos 20 e encontra os seus (meus, e de muitos!) ídolos em carne e osso. Mais que isso: ele os encontra humanizados, com suas personalidades fortes, vícios e emoções à flor da pele. Ernest Hemingway (Corey Stoll), o casal Fitzgerald (Tom Hiddleston e Alison Pill), Gertrude Stein (Kathy Bates), Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo), Cole Porter (Yves Heck), Luis Buñuel (Adrien De Van), Salvador Dalí (Adrien Brody), entre outros, estão todos presentes no círculo intelectual, em sua Era de Ouro.
Com desenvoltura e bom humor, os encontros casuais entre as inúmeras personagens da história e seu protagonista são traçados. A surpresa e o fascínio expressados por Owen Wilson a cada um destes encontros são convicentes ao ponto de você achar que ele também está assistindo ao filme. Allen, desta vez, deixa de lado seus cinismo e sarcasmo, para se enveredar em um romance inteligente e despretensioso. E não é pela quase pin-up Adriana (Marion Cotillard) ou mesmo pela simples Gabrielle (Léa Seydoux) que o protagonista se apaixona; aqui o romance é entre Gil e a Cidade Luz.
Os destaques desta obra-prima são a genial piada sobre The Exterminating Angel (O Anjo Exterminador, 1962), de Buñuel, e o escárnio em relação aos pseudo-intelectuais. Allen deixa claro que apenas estudo e cultura não transforma ninguém em um intelectual. Precisa-se viver, se apaixonar, amar intensamente as artes. Porém, ironicamente, a lição de moral do final contesta toda a tese defendida no filme. Você pode se inspirar em seus ídolos e mesmo suas vidas, mas não pode esquecer de viver sua própria. Entretanto, isso não muda o fato de que, em Midnight In Paris, Allen deixa-se levar aos mais altos sonhos e devaneios num passeio inspirador pela Sétima Arte.
Daniel Lima
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