Trailer de Tyrannosaur
“We sing / Send all our cares away / We´ll live / To fight another day…” A letra de Damien Dempsey (Sing All Our Cares Away) resume bem este primeiro filme do (agora) diretor Paddy Considine. Vencedor do prêmio principal do British Independent Film Awards de 2011, Tyrannosaur é um drama angustiante que narra a jornada de Joseph (Peter Mullan), um homem irascivo e violento, e o encontro com Hannah (Olivia Colman), uma cristã e submissa esposa.
Joseph, amargurado, sabe quem ele é; tem consciência de suas atitudes e das consequências desastrosas, que arruinam sua vida. Entretanto, parece confortável em conviver com o ódio que há dentro dele. Confrontos, violência e destruição fazem parte de sua vida; fazem parte de seu imo. Até que ele encontra Hannah, que trabalha numa loja e lhe estende a mão em um dos seus momentos de fraqueza. Apesar de seus psico-mecanismos de defesa, ele vê nela sua catarse, sua possibilidade de redenção. Porém, Hannah também possui seus problemas. Apesar da aparente vida perfeitinha de classe média alta, é vítima de violência doméstica e constantes abusos de seu próprio marido.
Brutalmente reflexivo, Tyrannosaur é uma película que nos faz repensar atitudes e conceitos. Inicialmente, o desnecessário e violento comportamento do protagonista é repugnante, mas, aos poucos, percebemos que todos nós temos nossas feridas, nossos defeitos, nossos (muitos) erros e arrependimentos. Podemos não aceitar suas atitudes, porém paramos de julgá-lo. No desenrolar da história, o certo e o errado perdem força, pois percebemos que se incorrermos numa classificação antagônica entre o bom e o mau, estaríamos cometendo uma avaliação discriminatória e superficial. Somos humanos; somos capazes das atitudes mais vis, ao mesmo tempo que carinhosamente acalentamos uma criança indefesa. Isto é fortemente comprovado pela genial explicação do porquê do nome do filme.
Considine nos leva a imergir na face mais suja da vida. Aquela face que está lá, sempre presente, mas que preferimos desviar os olhos. Ele nos mostra que mesmo a aparente “vida perfeita” possui seus defeitos e segredos mais sombrios. Para seu mérito, isso é feito através de situações e diálogos tensos, porém sem apelar para a violência gráfica. Além disso, a interpolação entre demonstrações afetivas e atitudes repudiantes acalma a atmosfera angustiante do filme e torna-o muito mais fácil de digerir.
Joseph e Hannah são personagens complexas, profundas e bem construídas. Mullan está confortável no papel e conduz bem. Isso é uma proeza, devido à total falta de carisma de Joseph. Porém, Colman se destaca numa atuação brilhante, cujo rosto transparece todo o turbilhão de sentimentos que se encerram em sua personagem. A dupla principal possui um entrosamento ótimo, que é fundamental para a imersão do telespectador em seus respectivos conflitos individuais.
Tyrannosaur possui como cenário principal a vida cotidiana. A real protagonista aqui é a violência. Joseph é um mero instrumento desta violência, que não possui origem, não se justifica; apenas é. Considine não nos mostra apenas que violência gera violência, mas sim que ela está lá presente, latente, e algum dia, ela irá se revelar, com ou sem um estopim. Seja em você ou seja à sua volta. Sad but true.
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